O que os homens podem fazer como
aliados do feminismo? Tem muita coisa a ser
feita
por Nádia Lapa
"Qual o papel dos homens no
feminismo?", perguntam alguns, realmente preocupados em não ultrapassar
qualquer limite e respeitar as ativistas. A resposta é difícil; há muitos
feminismos, e cada um lida com esta questão de forma diferente. Eu, feminista
autônoma, sigo correntes que colocam o homem como aliados, jamais como
protagonistas. Nunca.
O quê exatamente isso quer dizer,
uma vez que o feminismo não tem líderes?
Significa que o feminismo é
formado por coletivos organizados de maneira horizontal, nos quais as decisões
são tomadas em conjunto e não há função "mais importante" que a
outra. O que existe é troca e apoio mútuo. Parece irreal? Pois é assim mesmo
que coletivos muito bem sucedidos, como a Marcha das Vadias, funcionam. E
funciona muito bem!
Você pode dizer que há feministas
mais conhecidas que outras, e isso é óbvio, mas elas não representam todo o
feminismo, e sim as próprias opiniões e posicionamentos. Por isso fiz questão
de pontuar no início do texto que ele mostra o meu ponto de vista e que não
represento qualquer coletivo na minha fala.
Resolvida a questão da liderança,
passemos ao protagonismo. Muitos homens inexplicavelmente são contrários ao
protagonismo das mulheres, dizendo que esta é uma luta de todos. Há uma
confusão neste ponto: a luta até poderia - e deveria - ser de todos, mas um gênero é oprimido,
enquanto o outro é privilegiado. Inútil apontar qual ocupa esses grupos. Como
falar em igualdade se ela, de fato, não existe? Partiríamos, mulheres e homens,
de lugares diferentes!
Costumo responder à insistência
pelo "protagonismo compartilhado" com algumas perguntas simples:
Já não bastam as 90% cadeiras no
Congresso Nacional que são ocupadas pelos homens?
E as de CEO de empresas, cuja
participação feminina é irrisória?
Os homens mandam no mundo e detêm
o poderio econômico. Querem ser protagonistas em MAIS UM movimento, movimento
este que deseja justamente revolucionar as estruturas que permitiram a opressão
das mulheres através dos séculos? Não parece contraditório, mimado na melhor
das hipóteses e manipulador na pior?
Alguns homens se dizem
feministas, pasmem, para conhecer mulheres. Verdade. É uma nova balada para
eles. Outros, para pegar bem na fita. Afinal, é feio demais ser machista, né?
Tem gente que se orgulha, vai entender...
Mas se o rapaz está mesmo
desejando participar do movimento, em nome das suas irmãs, namoradas, mãe, e
mulheres que ele sequer conhece mas que sabe que estão sofrendo, como agir?
·
Nos seus ambientes masculinos, introduzindo o
feminismo. No futebol com os amigos, no boteco, no café no intervalo na firma;
·
Não compartilhando, de jeito nenhum, imagens que
diminuem a mulher ou que obviamente eram para uso íntimo e "vazaram"
por um ex vingativo;
·
Posicionando-se contra seu colega de
trabalho/faculdade/familiar que agrediu uma mulher;
·
Se ela estiver sozinha ou sem apoio, indo com
ela a uma Delegacia da Mulher;
·
Propondo programas de equidade de gênero na
empresa em que trabalha;
·
Não tratando a Marcha das Vadias como Carnaval
ou micareta, se vestindo de mulher e passando batom. Ser mulher é muito mais
difícil que isso. Proponha ao coletivo, por exemplo, ajudar na segurança da
Marcha;
·
Compartilhando tarefas domésticas;
·
Não duvidando da palavra de uma mulher que foi
vítima de agressão. Ela precisa de apoio, não de julgamento;
·
Se uma conhecida estiver bêbada na balada,
certificando-se que ela chegou sã e salva em casa;
·
Deixando a mulher falar. A fala é dela. Não
interrompa. Nunca. Ouça tudo;
·
Em hipótese alguma culpe a TPM por uma
insatisfação real da sua amiga ou parceira;
·
Deixando de adquirir produtos e serviços que
objetificam mulheres;
·
Parando de zoar o próprio filho ou o sobrinho
por este querer um brinquedo que não é "de menino";
·
Abandonando de vez os xingamentos sobre a vida
sexual da mulher (vadia, periguete, piranha).
Mais importante que tudo, tudo,
tudo: jamais nos ensine a militar. Quem sente a dor de ser mulher numa
sociedade patriarcal somos nós. Sejam nossos aliados, não nossos donos. Vocês
já estiveram nessa posição por tempo demais.
Fonte: Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário